terça-feira, 9 de setembro de 2008

não que ela fosse ouvir, mas se ouvisse entenderia.

Não tenho nenhuma certeza a respeito de Francesca Woodman,
mas ás vezes eu penso que ela poderia ser uma menina meio afetadinha, dessas que lembram a galerinha "que investiga o corpo" do instituto de artes, todos cheios de gestos, de caras e de bocas, tendo muitas vezes aquela mesma mania de ficarem nús, como se a nudez fosse um agente legitimador para chamar de "arte" as palhaçadinhas do tom de "i wanna be hipponga nos anos 2000". Nada contra exceto pelo óbvio nojinho ao ver o resultado do processo dos amigões que acham bacanudo ficar mostrando o pinto e a pepeca, ou dançando enquanto balançam panos, sem pensar sobre o que estão fazendo, citando body art, arte performática, ao passo que conhecem apenas muito superficialmente o contexto histórico e os conceitos envolvidos no movimento que eles teimam em repetir toscamente (e difamar) sem nunca ter lido um livro sobre o assunto. (Eu também não li nenhum livro inteiro sobre isso, mas não fico me prestando a fazer esses showzinhos. Nenhuma síndrome de Yoko Ono descontextualizada me possui no momento.)
O triste é saber que, sendo maioria nesse meio, é essa camada grosseira que vai representar a "classe artística" para todo mundo, sendo mais do que natural que historiadores, teóricos, engenheiros e psicólogos da vida achem que os "artistas" são sim um bando de gente rasa e afetada na sua grande, muito grande maioria, gerando aí um mútuo preconceito quanto aos posicionamentos e interesses profissionais.

Um monte de macacões adestrados, papagaios repetidores.
Sendo ou não sendo integrante desse infeliz esteriótipo de artista, Francesquita tinha lá os seus geniais tiques metódicos e a sua cabecinha de Rimbaud da era moderna, tão incrivelmente precoce no desenvolvimento artístico, com uma produção surpreendente e com a carreira tão curta. Ela fez tudo o que fez até os 22 anos de idade e depois se jogou da janela do seu estúdio em Nova Iorque. Talvez tenha sido demasiadamente dramática a "ação", mas isso não importa: quis morrer, que morra (melhor do que ficar por aí fazendo drama, nada mais entediante).

Ao olhar Francesca Woodman superficialmente ela pode mesmo soar forçadora de barra, (se tivermos em mente aqueles seres vazios, os mesmo que reclamam quando têm que ler um artigo, e que ficam muito brabos quando têm que ler um livro). Ela não era só uma jovem artista que fotografava compulsivamente e que precisava ser legal com as pessoas para se promover, isso por que não tinha a necessidade de usar esse meio como o único fator legitimador da sua produção.
Fora o aspecto formal das técnicas de revelação fotográfica, os conceitos que são inerentes à fotografia dela são afiados: produção de forte relação com o surrealismo, com o pós-minimalismo, com a história dos auto-retratos e com o feminismo. Além disso o trabalho é atemporal, quem não conhece dificilmente sabe dizer precisamente de quando é, o que reforça a potência da obra, pois ela não serve somente em uma época, não tem prazo de validade, sempre terá a mesma forte expressão.
Pena que em pouco tempo Francesca Woodman será, coitada, banalizada pelo pessoal das danças peladas como Duchamp, coitado, é banalizado por todos nós.


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